domingo, 26 de dezembro de 2010

“ABRINDO OS OLHOS DA JUSTIÇA”

                                                                               Por Tav Rosh Benyakóv

Por entender a Ciência Jurídica como uma sublimação da alma humana, ouso transformar o conceito de justiça social numa metáfora metafísica para ilustrar a necessidade de abolir o obsoleto conceito de “Justiça Cega”. Não chega a ser um ensaio teológico-filosófico, mas singela apologia à “Justiça Visionária” – enquanto paradigma que representa a legítima expressão dos anseios ideológicos do cidadão comum, acostumado a ver para crer e a crer para ver.
A deidade, em sua suprema onipresença, onisciência e onipotência, poderia, simbolicamente, ter seus olhos vendados – no sentido de não fazer diferença entre as partes litigantes – pois, mesmo assim, saberia julgar com rapidez e equidade: oferecendo o escape de misericórdia ou o furor da condenação. No ideário popular, Deus, o arquétipo máximo da Justiça, é aquele que tudo vê e tudo sabe. “Ver e saber” sempre fizeram parte dos ideais míticos e antropomorfistas das civilizações antigas e, ainda hoje, caracterizam-se como genuínas expectativas empíricas que também buscam ser verdadeiramente reconhecidas, absorvidas e perpetradas pelas cátedras, magistrados e pelo sistema judiciário vigente para que tornem-se mais legítimos e aguerridos no propósito de representar os interesses da população em erradicar a impunidade.
Com o advento do antropocentrismo, da humanização da Justiça, e da democracia, criar leis e fazê-las cumprir deixou de ser produto da direta intervenção divina, numa sociedade que já não é mais teocrática.  Em contrapartida, o Direito passou a evoluir em função do indivíduo e em harmonia com os parâmetros sociais, sem, contudo, despojar-se da paradigmática e retrógrada cegueira. O crescente número de legisladores, juízes e advogados faz com que a Justiça continue construindo percepções jurídicas contextualizadas à cultura de cada região, de cada época, considerando sua evolução histórica, numa tentativa de integração holística das macro e micro realidades psico-sócio-político-econômicas. buscam não desprezar a herança dos valores morais, emocionais, éticos, familiares e religiosos, por também serem sólidos referenciais antropológicos que visam substituir a função do dito “discernimento divino”. Paradoxalmente, os advogados tem tentado ser os “olhos que tudo vêem”, enquanto a Justiça humana burocratizou-se e enrijeceu-se de tal forma que sempre tem que “ver para crer” – mas, por ainda estar plenamente vendada, cega, permanece incapaz de creditar confiança a certos fatos que seriam aceitos até por Tomé – atuando de forma morosa e insatisfatória.
A cegueira da nossa Justiça está estigmatizada. Tornou-se caricatura grotesca da indiferença, omissão, corrupção e impunidade. Tanto que há provérbios contemporâneos que justificam: “o pior cego é aquele que não quer ver” e “o que os olhos não vêem, o coração não sente”. No modelo “cego”, entende-se que há juízes que não percebem a dor dos injustiçados e nem se preocupam em punir o delito de alguns injustos. Nesta concepção de “Justiça Cega” também está implícito o conceito pejorativo de deficiência e inoperância, como bem salienta o escritor Álef Benavraham em sua poesia intitulada Injusta Cegueira: “No mundo dos pobres, a Justiça ainda se faz de muda, surda e até tetraplégica...” (Lendas de Um Coração – Poesia em Defesa da Igualdade, Coleção Cactos, Vol. I-2, poesia de número 15, http://escritoralef.blogspot.com/). Por isso, é preciso empreender todo esforço possível para desatrofiar a visão da Justiça, propiciando que ela enxergue, e bem, as realidades e atrocidades sociais do cotidiano. Na atual conjuntura, a população precisa de uma Justiça Humana que se supere com a hiperestesia dos sentidos, especialmente o da visão: para que veja luz no final do túnel. Se Deus está vendo, se até mesmo o povo inteiro está testemunhando, a Justiça também necessita enxergar enquanto ainda é possível tentar extirpar a vergonhosa degeneração política que se alojou no país.
A missão de ajudar a desvendar os olhos da Justiça é um moderno conceito de cidadania na crescente potencialização e dignificação dos direitos humanos, sendo a solução pragmática e efetiva que a permitirá enxergar até mesmo o que a mídia e os poderes econômicos não mostram e não comentam. Se o Poder Judiciário pudesse ver e agir imparcialmente, como verdadeiro Deus-vivo, supremo Juiz e Arquiteto do universo, a sociedade assemelhar-se-ia ao Éden: símbolo canônico que traduz o direito primaz de escolher entre o bem e o mal com suas respectivas conseqüências anteriormente convencionadas, responsabilizando imediatamente o homem por suas ações no mundo – nisto consiste a base da verdadeira democracia, da liberdade de escolha, e da implementação da Justiça Visionária.
Com a licença dos doutores da Lei e em defesa de uma cosmovisão remanescente do sonho, da fé e esperança que ainda permeiam o consenso popular – com fundamentações sociológicas e jurídicas à parte – acredito que a construção do “paradigma visionário” como novo e imprescindível Ícone da Justiça, além de responder às expectativas intrínsecas dos cidadãos e otimizar a confiança de que ainda é possível vitalizar o nosso sistema judiciário, também tornar-se-ia o grande marco de uma nova era da luta institucional  e comunitária pela real e transparente igualdade de direitos e deveres no Brasil.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

"ELES TENTARAM EXTERMINAR OS JUDEUS ..."

"AS TRÁGICAS MARCAS DO ANTI-SEMITISMO NA HISTÓRIA"

                                                                      Por Tav Rosh Benyakóv
Anti-semitismo é uma expressão moderna que define o mais antigo tipo de intolerância e violência político-religiosa: o racismo, preconceito e perseguição aos judeus. Durante quase 4 mil anos, sob diferentes formas e argumentos, sempre houve quem tentasse exterminá-los da face da Terra. Mas por quê?
Reza a tradição que por volta de 1700 a.e.c, cerca de 70 hebreus, descendentes de Avraham, Itzchak e Iakóv foram morar no Egito, onde tornaram-se mais ricos e prósperos que os próprios egípcios. Faraó, com medo de ser dominado, começou a afligi-los severamente: redobrou a carga de trabalho, ordenou que matassem todo filho homem durante o parto e que os já nascidos fossem lançados ao rio... marcando o trágico início do anti-semitismo.
Sob a liderança de Moisés, cerca de 600 mil judeus, sem contar mulheres e crianças, foram libertados dos 430 anos de escravidão e sofrimento. Viveram 40 anos de peregrinação pelo deserto, passando por sucessivas guerras com outros povos... Finalmente se estabeleceram na Terra-Prometida, em Jerusalém, durante 4 séculos, onde instituíram a monarquia e conseguiram grande prosperidade através dos reinos de Davi e Salomão.
Por volta de 605 a.e.c, a Cidade Santa foi arrasada pelo Império Babilônico: Nabucodonozor saqueou todo o ouro, destruiu o Templo e levou o povo judeu como escravo... Depois de 70 anos de cativeiro, com a dominação do Império Persa, cerca de 50 mil judeus retornaram a Jerusalém para reconstruí-la e ali também permaneceram sob o Império Macedônio de Alexandre, o Grande.
Com o domínio dos Ptolomeus, muitos judeus foram levados para o Egito... Mas Jerusalém veio ser arrasada pelos selêucidas: saquearam a cidade, mataram os judeus, escravizaram mulheres e crianças, destruíram manuscritos da Tanach (Antigo Testamento), proibiram o culto a Deus, impuseram a aculturação helenística... Isto gerou a Revolta dos Macabeus: com 10 mil judeus, Judas conseguiu derrotar 50 mil guerrilheiros selêucidas, e depois 65 mil, conquistando a independência de Jerusalém e a purificação do Templo. A Cidade Santa voltou a prosperar e ficou totalmente livre entre 142 a.e.c até 63 a.e.c.
Em maio de 66 d.e.c os romanos resolveram acabar com as revoltas judaicas e Tito iniciou um cerco de 5 meses a Jerusalém: crucificaram multidões de judeus, formando uma vasta floresta de cruzes ao redor da cidade; abriram o ventre deles à espada, procurando supostas moedas de ouro; a peste e a fome exterminaram outras centenas deles; e ao serem destruídas a cidade e o Templo, havia mais de 1 milhão de mortos...
            Desde o Imperador Nero (54 d.e.c a 68 d.e.c.) até Diocleciano (284 d.e.c a 305 d.e.c), os judeus sofreram 10 grandes perseguições romanas: a cada ataque eram costurados em peles de animais selvagens e lançados aos cães para serem devorados; jogados aos leões; encharcados de cera inflamável e atados aos postes como tochas humanas... Na última perseguição, em 23 de fevereiro de 305 d.e.c, o povo judeu teve orelhas e narizes cortados, os olhos direitos arrancados, membros inutilizados, corpos queimados a ferro, e suas riquezas confiscadas...
Jesus, Maria, os apóstolos e os primeiros mártires cristãos eram judeus. A Bíblia foi toda escrita por eles. O Cristianismo era uma espécie de seita judaica, que nasceu em Israel... E Herodes, o governador romano, havia sido o primeiro a tentar exterminar Jesus, fazendo com que milhares de meninos judeus morressem. No entanto, somente em 313 d.e.c, num estratégico ato de usurpação religiosa, o imperador romano, Constantino, oficializou o Cristianismo em Roma, tornando-se o supremo mediador entre Deus e os homens...
Em 380 d.C., o tirano imperador Teodósio também forjou sua conversão e instituiu a Igreja Católica Apostólica Romana como religião oficial, assumindo o seu controle para exercer a dominação ideológica, a apropriação de riquezas e a expansão política do império... Ou aceitava-se passivamente o cristianismo ou tornava-se mártir, levando milhares de judeus às trágicas torturas e às fogueiras da Santa Inquisição: pequenas labaredas até a altura dos joelhos, onde eram lentamente assados, por 3 ou 4 horas, até que morressem...
Em 632 d.e.c, Maomé fundou o Islamismo e em 638 d.C os árabes sitiaram a Cidade Santa, onde construíram a Mesquita de Omar no lugar do antigo Templo judaico. Em 1905 o papa Urbano II formou um exército libertador da Terra-Santa para exterminar os muçulmanos: arrastavam judeus e árabes para serem batizados à força, torturando e matando cruelmente os que se recusavam. Até 1291, as 9 cruzadas católicas também incendiaram várias sinagogas em Jerusalém, todas abarrotadas de judeus, pois queriam varrer do mundo os “assassinos do Filho de Deus”. Nesta data os muçulmanos recuperaram a posse da Cidade Santa.
Em 1340 e 50, em mais de 350 cidades, os judeus foram mortos a pauladas, afogados, enforcados... acusados de serem responsáveis pela peste negra que estava dizimando um terço da população européia. Entre 1881 e 1918, no Império Russo, sob influência da Igreja Ortodoxa, as massas alucinadas deram início a um poderoso genocídio denominado “pogrom”, onde exterminavam deliberadamente os judeus: tiravam suas peles e jogavam a carne aos cães; arrancavam mãos e pés até que morressem; rasgavam as crianças pelas pernas; assavam os bebês e obrigavam as mães a comerem; abriam o ventre das mulheres grávidas, arrancavam os e fetos batiam com eles na cara das mães...
A partir de 1933, numa Alemanha nazista e completamente luterana, onde muitos protestantes transformaram suas cruzes em suásticas, Hitler promoveu o mais terrível holocausto: os judeus eram mortos por fuzilamento e na câmara de gás. Até seus óculos, sapatos, roupas, bens pessoais, eram revendidos... Os dentes de ouro de suas bocas eram arrancados para feitura de jóias, seus cabelos utilizados na fabricação de colchões, sua gordura para a produção de sabão... e as cinzas de seus corpos, como estrume. O Dr. Mengele ainda usava judeus vivos como cobaias humanas, fazendo amputação de membros e órgãos, injetando vírus e produtos químicos... 1500 sinagogas foram incendiadas e mais de 6 milhões de judeus, incluindo 2 milhões de crianças, foram executados com requintes de crueldades...
O anti-semitismo, em diferentes nações, impulsionou o movimento sionista e fez com que milhares de judeus fugissem e retornassem às suas origens. Conforme resolução da ONU, em 14 de maio de 1948, no meio do deserto, foi fundado novamente o Estado de Israel. No mesmo dia, sua capital, Tel-Aviv, foi repentinamente atacada por um avião egípcio... Em seguida houve a invasão de 7 países árabes, numa guerra que durou 15 meses. Mesmo assim Israel conseguiu atacar e ampliar seu território em cerca de 50% da área original. Em 1956, veio a repentina Guerra de Suez...
De abril a maio de 1967 surgiu uma nova campanha anti-semita no Oriente Médio... Depois o Egito, Síria, Jordânia, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Sudão e Argélia, num total estimado de 250 mil soldados, 2 mil tanques e 700 aviões de combate, resolveram executar o antigo plano de “varrer Israel do mapa”. Só que Israel antecipou a ofensiva e destruiu quase toda força aérea dos inimigos que ainda se encontrava no solo. No sexto e último dia de disputa, o território de Israel havia triplicado de tamanho. No dia 6 de outubro de 1973, quando comemorava-se um sagrado feriado judaico, denominado Yom Kippur (Dia do Perdão), a coligação formada pelo Egito e Síria atacou Israel de surpresa, dando início à quarta guerra árabe-israelense... E ainda permanecem, quase diariamente, os inumeráveis conflitos gerados entre israelitas, muçulmanos fundamentalistas, terroristas, homens-bombas... que lutam contra o profético estabelecimento do Estado de Israel.
           Atualmente, diz-se que cerca de 50% da economia americana está nas mãos dos judeus, servindo-lhes como escudo. Assim como o fim do conflito árabe-israelense tornou-se de grande relevância econômica para o mundo, devido a sua estratégica localização ao Canal de Suez, na mais importante passagem comercial de três continentes: Europa, Ásia e África, aonde se encontra uma das maiores reservas de petróleo do planeta – o que também coopera para as atuais negociações de paz.
Este “flash-back” sobre o anti-semitismo retrata apenas a pontinha do “iceberg” e, mesmo assim, tem a impactante função de sinalizar que o preconceito, ódio, discriminação  e desrespeito – em quaisquer de suas ramificações, intensidades e tipologias – são gravíssimas doenças sociais capazes até mesmo de dizimar a vida no planeta. Portanto, compete a esta geração aprender a aceitar, incondicionalmente, a identidade psico-sócio-político-econômica de cada ser humano e a seguir a paz com todos, antes que a intolerância nos conduza ao conflito pessoal, ao caos regional, ou à Terceira Grande Guerra. (Acesse também:  http://escritoralef.blogspot.com/)





domingo, 31 de outubro de 2010

“... O ESTADO LAICO E A DITADURA CRISTÔ

                                                             Por Tav Rosh Benyakóv

          Tenho recebido e-mails, correntes, vídeos e outras bobagens religiosas que invadem arbitrariamente os meus espaços virtuais com intuito de reagir contra as novas Leis que estão tramitando no Congresso Nacional.
Este movimento reativo é um evidente reflexo do preconceito e da discriminação vorazes da Igreja, que continua tentando ferir a liberdade da nação. Não podemos esquecer, contudo, que a Igreja está entre os piores modelos de governo da história da humanidade, igualando-se, apenas, ao nazismo de Hitler. As Cruzadas, Inquisições, Reformas, Contra-reformas, Anticientificismos, Anti-semitismos, e Nazismos - que dominaram a Idade das Trevas e disseminaram todo tipo de puritanismo hipócrita e castrador da natureza humana - são testemunhos impiedosos que depõem contra a moral do Cristianismo e demonstram a sua ilegitimidade governamental.
Ou seja: Nesta nova era, onde busca-se enfatizar os direitos humanos e individuais, a cidadania, o construto identitário do ser, a liberdade e a autonomia que ajudam a reafirmar a democracia e a laicidade do Estado, já não há mais espaço para uma nova ditadura cristã, ou de qualquer outra religião. O Império da Igreja precisa ser encarado como uma aterrorizante e chocante experiência do passado que não deve mais ser reproduzida em pleno século XXI. Desde o Iluminismo, o ocidente tem conseguido libertar-se das opressões cristãs... Graças a Deus, e aos homens de boa vontade, este não é mais um país cristão, mas sim um Estado laico! Não é mais um governo onde se utiliza o nome de Deus em vão, somente para impor a guerra, a tortura, a morte, a dominação, a exploração, a apropriação de riquezas, a discriminação... e toda sorte de insanidades que buscam somente a manutenção de uma inútil casta sacerdotal, nutrindo apenas seus interesses políticos e econômicos.
Estamos tentando construir um mundo plural, mais tolerante, mais respeitoso, onde, pela primeira vez na história, o indivíduo passa a existir como um ser pleno, que pode e deve ser realizado em suas necessidades e anseios pessoais. A tirania da Igreja quer que não-cristãos ajam segundo a moral cristã, que os demais religiosos obedeçam a doutrina cristã, que seres-livres ajam como escravos, que seres-pensantes ajam como ignorantes, que cidadãos legítimos ajam sempre como seres colonizados e aculturados pelo Cristianismo... A igreja e os cristãos ainda sentem-se como donos do mundo e da verdade, com privilégios sobre os demais. Já vimos o resultado destas medidas déspotas na Idade Média: ou se vivia obrigatoriamente como cristão ou morria nas santas fogueiras da inquisição. Não existia direito à mulher, ao negro, ao judeu, ao muçulmano, ao homossexual, ao deficiente físico, ao gnóstico, ao livre pensador, ao cientista, ao ateu, ao cidadão, ao indivíduo... Todos tinham que ser produto do mesmo barro estéril.
            Estas medidas desumanas não podem ser reafirmadas em nosso tempo, sob outras máscaras, ou sob outros argumentos, ou retornaremos à estaca zero e ao caos. Não somos cidadãos romanos, não somos protestantes alemães, não temos que ter uma religião importada. Somos brasileiros, laicos, e não precisamos viver segundo o pesado jugo de um Império agonizante que recusa-se a morrer. Um Império que sacrifica novas gerações com suas ideologias letais, ao invés de ceder ao amor de Deus que aceita a todos sem diferença. Um Império que tornou-se o maior ícone da hipocrisia global, sem precedentes históricos. E apesar de eu ser a favor da liberdade religiosa, entendo que a Igreja, enquanto entidade política e social, deformadora de opinião, precisa ter suas arestas imediatamente aparadas antes que seja tarde demais. Por isto, jamais vote em políticos cristãos! Diga não à nova modalidade de guerra fria inaugurada por eles... Não entregue o destino do nosso país para uma nova e sutil ditadura religiosa, que já está tentando brotar...
Diga sim à liberdade de escolha! Diga sim ao direito de ser e de viver! Diga sim à pluralidade e à tolerância, ao amor e ao respeito mútuos! Diga sim à igualdade... Diga sim às novas Leis brasileiras  (PNDH-3)  que também delimitam o poder da Igreja e erradicam o abuso do poder cristão!  (Acesse também: http://escritoralef.blogspot.com/)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

...AFINAL, QUEM É DEUS?!

Por Tav Rosh Benyakóv

...Primeiramente, quem é o homem? Quantas diferentes ciências poderiam traduzir, em palavras, este ser tão plural e paradoxal? Como avaliá-lo do ponto de vista tecnológico, biológico, social, existencial, emocional? Como delimitar suas habilidades, criatividades, potencialidades? Como mapear o perfil de sua personalidade?  Quantas variantes poderiam ser consideradas? Como compreender a ilimitude de si mesmo? Como interpretar ao próximo, bem como as controvérsias de suas culturas, etnias, pensamentos, ações e reações? Que ferramentas seriam necessárias à análise? As respostas seriam igualmente verdadeiras, infalíveis e incontestáveis? Todas as cátedras construiriam a mesma tese? ...Cada indivíduo tem sua digital e suas especificidades genéticas, sendo oriundo de diferentes contextos histórico-sociais.  Logo, como seria possível sintetizar, ou generalizar, a essência da natureza humana? Os gênios e os intelectuais, dos diferentes ramos científicos, a cada dia fazem novas descobertas diante do infinito desafio... e sabem que pouco sabem!

Todavia, ironicamente, há quem queira propor teses irrefutáveis sobre Deus! Há criaturas que desejam compreender plenamente o Incriado! Seres finitos tentando conceber o infinito! Espécimes efêmeros tentando conter o atemporal. Cegos tateantes que consideram-se doutores em estética, surdos que intitulam-se críticos musicais, símios que imaginam-se teólogos...  Mas são apenas insanos! E é preciso ser ainda mais tolo para dar-lhes crédito! Afinal, quem é o homem – que ainda não conhece perfeitamente a si mesmo, a sua própria natureza e habitat – para julgar-se capaz de definir a Deus? O cão é quem pensa conhecer o seu dono pelo cheiro! Mas o que seria o homem para o cão, que o distingue tão bem dentre os estranhos? É aquele que o nutre de comida e carinho? Que o acorrenta? ...Ele nunca saberá conceituar profundamente o seu dono, nunca entenderá a grandeza do universo humano... Alguém já disse que os cães pensam que o homem é seu escravo: basta latir para ser servido! E nós, que sequer conhecemos o cheiro de Deus, sequer o vemos, sequer o tocamos, como poderíamos delimitá-lo? Como poderíamos escravizá-lo? Basta latir para que Ele nos atenda e nos sirva? Ele não pode ser dissecado, posto numa lâmina macroscópica, nem questionado num divã... Provavelmente habita noutro mundo, noutra dimensão, noutra realidade...

Não sabemos quase nada sobre o homem, o dna, a folha de uma árvore, átomo, vírus, estrelas ou galácteas, mas queremos adivinhar os atributos do criador do universo? Queremos defender teses teológicas ou doutrinas canônicas? Por causa das insanidades teológicas há tantas religiões, templos, dogmas, guerras e cemitérios... Se ninguém surtasse na busca da verdade transcendental e do poder, haveria menos leis alienadoras e escravistas... mais liberdade e paz! Todos seriam igualmente livres-adoradores do Deus indizível! Na cultura judaica, nem mesmo Deus ousou definir a si mesmo! Diante de Moisés, quando indagado, Ele apenas respondeu: “Sou o que Sou!”. Ele não denominou-se azul ou verde, bom ou mal, bonito ou feio... não utilizou-se de adjetivos castradores e delimitadores, nem de subterfúgios da razão, nem formatou-se por meio de uma caricatura. Antes, preservou a plenitude de sua identidade, imperscrutável e inenarrável, na definição do verbo “ser”.  Deus é o que é, o que quer ser, o que sua natureza divina o permite que seja. Não o entenderíamos jamais! Assim como o cão não perceberia nada além do hálito, caso quisessem convencê-lo por meio da retórica!

Deus é Deus – e isto é o que importa! Se é aquele que nos alimenta ou nos acorrenta, ou se é livre e nos emana liberdade, ainda não sabemos. Deus é indizível e isto me fascina! Pois se não consigo compreender um simples inseto, e mesmo assim pudesse compreender a Deus, isto o tornaria inferior ao inseto e a mim próprio. Se Ele fosse tão simplório – tão contraditoriamente conceituável e absurdamente definível pela limitação empírica do intelecto humano -  eu não mais poderia chamá-lo de Deus. A inacessibilidade e a indefinibilidade de Deus é o que o torna superior e verdadeiramente divino! Creio que Deus é Deus porque não posso esmiuçá-lo e explicá-lo, nem torná-lo análogo a nenhuma outra criatura! E, tal como um cão, posso apenas senti-lo e amá-lo, aceitar seu zelo, confiar em sua proteção, perceber seu amor e sua divina supremacia... Mas a minha natureza humana não me permite compreendê-lo! Ele não cabe em minhas elucubrações mentais e nem pode ser recriado ou forjado em pretensas teorias teológicas, como se fosse medíocre ídolo de barro esculpido pelas mãos de um exímio artífice! Deus é Deus, simplesmente Deus -  e somente por isto o adoro! Baruch hashem!    (Acesse também: http://escritoralef.blogspot.com/)



quarta-feira, 20 de outubro de 2010

JESUS - UMA ERA DE FARSA


“O JESUS HISTÓRICO EM SUA ORIGEM JUDAICA”
                                                     Por Tav Rosh Benyakóv

Discorrer sobre Jesus pode ser demasiado delicado, complexo e contraditório. Pois não é possível determinar que ele tenha sido um ser real, encarnado, com vida social que possa ser reconstituída de forma precisa e histórica. Por outro lado, tudo o que dizem sobre ele, bem como tudo o que tem sido produzido e pregado sob argumento de sua possível existência, influenciou radicalmente a sociedade por dois mil anos. Sendo assim, o Jesus histórico só pode ser estudado e avaliado por meio dos acontecimentos que evocam seu nome e seus valores, capazes de gerar concretas reações no cenário social. Ou seja, entendo que o Jesus histórico é produto do imaginário coletivo - plural e controvertido – ora construído, materializado e manipulado no decorrer da história.
Mas que Jesus histórico será discutido: O da expectativa messiânica judaica, oriunda do cativeiro babilônico? O essênio? O Mestre da Justiça? O rei? O sacerdote?  O eremita ascético? O rabino fariseu? O herege, profano e reacionário que foi condenado à morte por justiça? O que se casou com Maria? O que teve relações sexuais com João? Aquele narrado no cânon cristão ou nos apócrifos? O helenístico? O gnóstico? Ou aquele deificado e forjado para ser dominador romano? Mas romano ortodoxo ou católico? O mesmo Jesus que legitimou a inquisição universal e o pogrom russo? Ou o Jesus também anti-semita, reformado, e luterano, que serviu de base ao protestantismo alemão e nazista? Ou o Jesus que motivou o selvagem capitalismo europeu e americano? Mas deixaria de ser histórico o Jesus mítico, e místico, produzido pela coerção social das tradições imperialistas cristãs? E o Jesus cardecista e esotérico? E o Jesus arquetípico de Jung? Ou o Jesus da experiência pessoal, ora produto da esquizofrenia e demais patologias psíquicas, tal como a fraude do inconsciente? Ou o Jesus mercenário, manipulador, curandeiro, charlatanista, que vende a salvação nos movimentos neopentecostais contemporâneos? Ou, quem sabe, o Jesus imaginativo, lendário, fabuloso e literário que inspira adesões político-partidárias ainda hoje? Sob que perspectiva é possível avaliar este personagem-curinga, que respalda o bem e o mal, a ordem e a revolução, a paz e a guerra, a dominação e a liberdade, a fé e a razão, variando de acordo com a época, grupo social e interesse político de quem o defende? Quem é este ídolo plástico, sempre remodelado pelas mãos dos artífices-ideológicos que trabalham para a crescente legitimação e manutenção do poder? Quem é este ídolo de barro que é vivificado, adorado e imortalizado pela alienante crendice das massas?
Ao focar a atenção somente no período contextual do segundo Templo de Jerusalém, por volta de 515 a.e.c até 70 e.c, percebe-se que a fé judaica estava dividida em diversos segmentos: samaritanos, saduceus, escribas, fariseus, essênios, zelotas, macabeus, herodianos, sicários, caraítas... e, por fim, cristãos. Nota-se, a partir desta introdução, que o judaísmo nunca foi uma religião homogênea, detentora de um só dogma. Ao contrário, sempre foi plural e, às vezes, os judeus discordavam quase plenamente em suas crenças à medida que seguiam de uma facção à outra. Em função disto, segundo o historiador Flávio Josefo, em meados de 150 a.e.c, um grupo de ascéticos separatistas, denominado essênio, migrou ao deserto por encontrar-se insatisfeito com a religiosidade, política e helenismo predominantes em Israel. Os essênios dividiam-se em grupos de 12, vestiam-se de branco, usavam barbas, eram celibatários, acreditavam em cura pela imposição de mãos, aboliam a propriedade privada, eram vegetarianos, realizavam batismos, praticavam o ritual da ceia com vinho e pão, expulsavam demônios, acreditavam no Bem e no Mal, em filhos da Luz e das Trevas, não aceitavam sacrifícios de animais, desprezavam o Templo, acreditavam na vinda de um messias libertador, valorizavam as escrituras sagradas e dedicavam-se a estudá-las – sendo estas também as principais características de Jesus e seus discípulos, conforme narrativa dos Evangelhos.  Assim, possivelmente, os essênios teriam lançado as principais bases teológicas do cristianismo primitivo – e ainda judaico. E mais que isto, pois, talvez, tendo sido o Mestre da Justiça um tipo de messias judeu - dentre tantos outros que já existiram - fora progressivamente mitificado pelos primeiros gnósticos-cristãos ao ponto de, séculos mais tarde, também ser usurpado e deificado pelo Império Romano. 
Independente de quem, exatamente, tenha sido o Jesus histórico, é notório que ele foi filho do judaísmo e representava exclusivamente as expectativas sociais, políticas, religiosas e messiânicas de determinados segmentos israelitas. Inclusive os Evangelhos (escritos entre 70 e 90 da e.c) testemunham que os pais de Jesus e seus discípulos eram judeus, da linhagem de David; ele freqüentava as sinagogas, o Templo, e colocava-se a reinterpretar livremente a Torá e as Escrituras, tal como um rabino fariseu; seus ouvintes eram basicamente israelitas; e mesmo Paulo, que foi o maior propagador de Jesus, era fariseu convicto, criado aos pés de Gamaliel, detendo profundo conhecimento da Lei judaica; e, segundo os Atos dos Apóstolos - apesar do proselitismo e da contínua conversão de gentios ao judaísmo - o tema do possível messianismo de Jesus era sempre discutido entre judeus e dentro das sinagogas. Mas o conceito judeu de messias era simplesmente o de "libertador e restaurador político”. Jesus nunca foi considerado "deus-encarnado" na religião judaica, nem parte de uma trindade divina – isto era considerado blasfêmia, heresia, profanação e idolatria, sendo absurdamente incompatível com a cultura deles. Consequentemente, a grande maioria de judeus repudiou completamente a Teologia Paulina, causando uma cisão definitiva entre judeus e cristãos. E o Império Romano perseguia tanto a um quanto ao outro, torturando-os, queimando-os, e matando-os durante os quatro primeiros séculos. Somente em 313 da e.c. que Constantino se converteu ao cristianismo primitivo e concedeu liberdade de culto a Roma, mandando construir a primeira igreja com seu próprio dinheiro. Em 325 e.c., no Concílio de Nicéia, Constantino tentou unificar o pensamento cristão e eleger alguns dogmas - tal como a doutrina ariana, que defendia a divinização de Jesus.  Em 330 e.c. a capital do império foi transferida para Constantinopla; e apenas em 380 da e.c.,Teodósio tornou o cristianismo uma religião estatal. A partir deste momento concretiza-se a maior usurpação religiosa da história: o carpinteiro judeu é transformado num deus romano, a Tanach é substituída pelo Novo Testamento, as sinagogas cedem lugar às igrejas, as raízes judaicas são extirpadas e recebem uma maquiagem helenizada, o povo judeu é desapropriado de suas riquezas e amplamente exterminado sob o trágico argumento de terem “assassinado o Filho de Deus” - e o judaísmo é transformado em cristianismo, dando início à tenebrosa Idade das Trevas.
Sob esta brevíssima e superficial perspectiva, já é possível perceber que o Jesus pregado pela igreja – seja ela Ortodoxa, Católica, Protestante ou Neoprotestante - tornou-se mais que uma mitificação progressiva e naturalmente mutante, mas uma fraude histórica a serviço do poder. Trata-se de um Jesus roubado, deturpado, forjado, recriado, folheado a ouro – desde a Patrística, Escolástica, Reforma – para ser forçosamente comprado por parcelas incultas da população. Todavia, esta conclusão não encerra a discussão sobre Jesus e aponta para infinitas outras problematizações históricas, culturais, religiosas, sociais, políticas, psicológicas e ontológicas - algumas das quais sugeridas no segundo parágrafo deste artigo - que necessitam de maior atenção, pesquisa e aprofundamento filosófico.